Kendo, amizades e mokuso

Kendo é bem complexo, não só por conta do treino, filosofia ou intensidade em si, mas também por sua natureza como arte marcial, então, seria interessante falar um pouco sobre isso.

Arte Marcial

Certa vez perguntei à Márcio Sensei sobre uma arte marcial qualquer, nesse momento não lembro qual, a indagação foi se a atividade em questão era ou não uma arte marcial e a resposta do sensei me “abriu horizontes” já que eu nunca havia pensado na questão. Ele me disse que seria sim uma arte marcial, já que a origem do termo viria de Marte, o deus romano, seu equivalente grego é Ares, que seria o responsável pelas artes militares (Guerra, em outras palavras) e que hoje em dia o termo abrange os estilos de combate como um todo, sejam eles ocidentais ou orientais.

O kendo é uma arte marcial tendo sua essência na prática da espada japonesa, o que nos leva à uma preparação para o combate. Isso incide em algumas implicações, como técnicas e intensidades usadas durantes os treinos com o objetivo de preparar o kenshi, física e mentalmente, para duelos. Apesar de usarmos shinais e bokutos nos treinos, bogu como proteção e os duelos contarem com uma série de regras e supervisão de juízes, a base do treinamento continua e é necessário manter um corpo e mente compatíveis com a pressão na qual os competidores irão se submeter.

Kendo vs Tempo

Já que praticamos uma arte marcial ao praticar Kendo, é importante termos em mente a ideia de que estamos estudando e exercitando técnicas de combate, pois uma postura séria é necessária durante os treinos para conseguir absorver o máximo possível e evoluir cada vez mais a medida que treinamos. O que nos leva a quantidade de tempo que gastamos com os treinos, por exemplo, com treinos de entre 1,5 ~ 2 horas, 3 vezes por semana, gastamos facilmente 5 horas por semana e 20 horas por mês praticando basicamente com os mesmos colegas e se levarmos em conta alguns anos de treino, temos um bom período de tempo reunidos com os colegas do dojo para os treinos.

Amizades e Inimizades

Com todos esses encontros e o passar do tempo, é comum que alguns laços sejam criados entre colegas, levando pessoas à se conhecer durante os treinos, se tornar amigos e até mesmo que iniciar namoros. Inclusive, podemos acreditar ser possível fortalecer laços que já existiam antes do Kendo com essa atividade adicional.

Eis que deixo a pergunta:

Você já fez amizades no Kendo?

Não apenas amizades por conta dos treinos, mas passar a ter uma convivência mesmo fora do dojo. Você já teve?

E durante os treinos, você já teve ou presenciou algum desentendimento entre dois colegas praticantes? Eventualmente, um senpai  pode tentar forçar um pouco mais um treino, algum golpe bater fora ou acontecer qualquer outro motivo que possa levar ao desentendimento e esses problemas podem acabar sendo levados para fora do dojo. O caminho inverso também é possível, desacordos que já existam podem afetar relações dentro do dojo, afinal, somos todos humanos e passíveis de errar.

Mokuso

Com toda a dedicação de tempo necessária, prática exaustiva e os laços criados pelos que escolheram adotar esse “estilo de vida” é normal que sejam criadas preferências de colegas com quem é melhor praticar, porém, um ponto importante deve ser observado, onde todos os praticantes devem ser tratados de forma igual, sem preferências ou mesmo favorecimentos em torno de uma pessoa ou outra.

Mas, como lidar com amizades, namoros ou desentendimentos que possam existir entre praticantes?

Devemos praticar o mokuso ao iniciar e terminar uma sessão de treino. O mokuso está presente em várias outras artes marciais de origem japonesa e se refere á uma contemplação silenciosa, uma meditação que estão conectadas ao Zen-Budismo, mas não serão abordadas nesse artigo.

Nosso objetivo aqui é mostrar uma forma de esvaziar a mente de tudo que tem acontecido conosco no dia-a-dia, deixando de lado aborrecimentos e preferências que possam ter ocorrido em outros momentos de nossa vida particular ou até mesmo no trabalho e que possam interferir em nossa dedicação ao Kendo. Podemos atingir essa questão através do mokuso que realizamos no início de cada treino. De forma similar podemos realizar o mokuso ao término dos treinos para deixar de lado qualquer possível atrito ou emoção exacerbada que possa ter surgindo durante o próprio treino e nos conectar novamente com as atividades do dia-a-dia, fazendo com que o que aconteceu ao treino, não venha interferir nas suas atividades rotineiras.

De forma geral, usamos as sessões de mokuso para nos apaziguar e de forma criteriosa, aprender a lidar com nossos sentimentos do modo mais adequado possível, para que sejamos corretos com nossos colegas de treino e fazer com que nossas mentes estejam focadas durante os treinos, é um momento de fazer uma transição, limpar a mente para o que vem a seguir. Essa mesma meditação deve ser feita ao termino de um treino para que seja “desligado” o modo guerreiro, onde você possa deixar de lado qualquer conflito que possa ter ocorrido durante os momentos que antecederam essa nova fase de contemplação silenciosa e estar preparado para retomar suas rotinas. Também é possível refletir sobre o treino que acabou.

Nota:

Essas são reflexões pessoais do autor, podem não estar de acordo com as de outros praticantes.

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